domingo, 31 de agosto de 2008

O Gângster (2007)

Se você quer bem-feito, faça você mesmo. Assim pensa Frank Lucas (Denzel Washington, de Dia de Treinamento), que perde logo no início seu mentor, o gângster negro Bumpy Johnson (Clarence Williams III, de A Filha do General, em ótima ponta). Com ele, Lucas aprendeu os segredos e truques do submundo – como torturar, extorquir e, o mais útil de todos, disparar tiros certeiros no meio de “testas” que devem dinheiro ao patrão. “Um ato de gentileza”, classifica o personagem a certa altura da história. Ao assistir a uma reportagem em um telejornal sobre o perigoso número de soldados que usam drogas no Vietnã, Lucas tem uma bela idéia. Ele entra, então, em contato o primo que está servindo no exército em uma base em Bangcoc, na Tailândia, arrisca o pescoço para ir até lá e inicia uma operação milionária baseada na confiança entre fornecedor e comprador. Negociando diretamente com donos dos campos de papoulas no sudeste asiático, Lucas começa a processar e distribuir a heroína ‘Blue Magic’ – em português, Mágica Azul. O produto, 50% mais barato e 100% puro, logo cai nas graças da juventude do bairro do Harlem, em Nova York, e desbanca qualquer outro similar no mercado. Na filmagem dessas cenas, vários dos figurantes eram reais produtores de heroína. O início do vespeiro instala-se aí, pois o traficante age ao bel-prazer, ignorando a máfia, pondo a própria família para trabalhar para ele, casando-se com a Miss Porto Rico, deixando de lado o traficante rival (Cuba Gooding Jr., de Melhor é Impossível) e subornando a polícia e o exército para que a matéria-prima chegue em segurança, transportada nos caixões dos militares mortos na guerra. Preocupado com as aparências e não com as opiniões, Frank demonstra a falta de escrúpulos, e de alma, ao colecionar mais e mais inimigos, seja recusando-se a dividir os negócios, dando tiros em convidados bêbados em sua casa ou matando rivais em plena luz do dia com tiros... na testa. No encalço do “pó mágico azul”, está o policial Richie Roberts (Russell Crowe, de Gladiador), alvo de chacota de sua corporação por ter devolvido mais de 1 milhão de dólares apreendidos em uma batida. No melhor estilo Serpico (filme no qual Al Pacino, no papel-título, faz um policial incorruptível e, portanto, perigoso para o sistema bastante corruptível da polícia), Roberts procura ajuda fora de sua delegacia para tentar desvendar a origem e os envolvidos na operação milionária da heroína, que, inclusive, matou seu antigo parceiro corrupto. Seu caminho é constantemente cruzado e atrapalhado pelo detetive Trupo (Josh Brolin, de Planeta Terror, em ótima interpretação) e os meios para que o policial chegue a Frank tornam-se cada vez menos condizentes com a lei. Imbuído em ideologia semelhante, Lucas comete um pequeno deslize, que é aparecer com um espalhafatoso conjunto de pele de chinchila à histórica luta de boxe entre Muhammad Ali e Joe Frasier, alvo fácil no cenário, início do desfecho da história, que põe em xeque a sua audiência, perigosamente envolvida pelo charme e a inteligência de Lucas e tentada conscientemente a apostar no policial do bem.

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